Ontem tudo pareceu demais.
Sufoco demais.
Distante demais.
Silêncio demais.
Eu repensei se deveria ir atrás.
Se já não tinha feito tudo que era capaz
Poderia eu aceitar o “jamais”?
Os pontos abriam na ferida do coração
Tão certeiras como uma clara mensagem
E eu os cantei baixinho, com lágrimas na entonação
Pensei: “não pode ser isso é apenas um sentimento ruim de passagem…”
E quando o burburinho cessou
Observei confusa: o tempo e a vontade
Vi então que mais uma jornada começou
E abri espaço para meu eu crescer, não por vaidade
Mas porque tudo pareceu demais
Belo demais
Liberto demais
Obscuro demais
Mas é exatamente nessa escuridão que o mínimo brilho pode ofuscar, cegar e revelar . . . eu que demorei a ver os sinais.
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Esse poema foi escrito em registros aos últimos acontecimentos da minha jornada. Comecei há pouquíssimo tempo, sei apenas o que fui capaz de absorver, mas estou pronta e sedenta de curiosidade e vontade, para explorar todas as profundezas à que isso pode me levar, de me descobrir ainda mais nessa caminhada, de me agarrar de uma vez por todas à lanterna do Eremita…e entender que mesmo sozinha nunca estarei só.
As coisas se desenrolaram de uma forma bem como um carretel: eu fui provocada espiritualmente e confrontada com uma escolha da qual eu não teria mais escapatória, eu precisei decidir ali quem eu seria de agora em diante, e tudo que vem ocorrendo é cada vez mais me encaminhando a reafirmar isso a cada encruzilhada!
Eu sou Kimbanda, eu sou ocultista e eu não faço pacto com o diabo! Por que eu sou, EU sou o diabo.
E qualquer um pode pensar o que quiser, porque eu entendi finalmente que autoestima é diferente de vaidade. Eu não preciso que gostem de mim, eu preciso que me respeitem, eu não preciso que me amem.
Se quiser fazer parte da minha vida não se ressinta de nenhuma parte minha, porque eu não me ressinto! Eu exalto! Exalto todas minhas facetas, em completude e se completando.
Se não gosta de quem eu sou, saia da minha frente, porque eu vou passar por cima se não fizer, assim como tenho passado por cima de diversos bloqueios internos meus, assim como tenho passado por toda adversidade que me atinge.
Tenho falado muitas vezes recentemente que o medo é importante demais pra ser perdido, então eu não vou sequer tentar explicar pra você, que Exu é mal, Exu é mal pra quem merece….!
E que as deusas obscuras a quem eu cultuo, revelam -se e resplandecem em minha própria obscuridade. Que elas devorem a cabeça, daqueles que sequer pensam em me desrespeitar, só de torcer o nariz para desaprovar qualquer faísca interior minha, você estará cada vez mais perto de conhecer meus demônios.
É duro sentir isso, mas para ter uma pedra bem lapidada temos que aparar as pontas que não fazem mais sentindo para a forma a ser atingida…e eu não vou deixar mais nada ter domínio sobre mim.
Esses dias eu falei sobre o maior desafio e valor que aprendi com a kimbanda até agora, e recebi um presente singelo de reconhecimento pela coragem em expor quem eu sou, considerando o núcleo familiar de onde vim…e a mensagem foi um presente que eu não sabia que precisava:
“Estava falando com ela sobre as diferenças entre a Gabriela que eu conhecia e a Gabriela que eu tenho acompanhado. Que eu tenho visto que você fica bem mais à vontade expondo todo o seu processo e conhecimento na quimbanda. Sei o meio religioso e núcleo familiar de onde você veio e mesmo assim você não tem medo, não se reprime e isso é muito interessante por que mostra que você tá bem convicta e que sabe do que você tá falando. É conforto oriundo de conhecimento.”
Não tem sido confortável. Tem sido inclusive desesperador e agonizante em alguns momentos.
Mas sim, tem me preenchido de conhecimento e liberdade, todos os caminhos que trilho, e fiquei extremamente agradecida e maravilhada em saber que isso transparece.
Esse texto é sobre um sentimento lindo, como a rosa que recebi de presente de um desconhecido, para presentear ela!
“Para que ela cuide de você!”
Poderia ter falado sobre todas as delicadezas e belezas que esse evento me trouxe, a felicidade em pequenos momentos assim de saber que estou no meu caminho e que minha ancestral está feliz com isso e se orgulha de mim…
…mas eu decidi que essa austeridade que faz parte de mim, inflamada cada vez mais por uma certa fúria, também é bela!
Não vou me deixar abalar por dificuldades, elas só provam que eu já dei o primeiro passo, afinal se tudo se trata de uma “jornada da heroína” (seja do feminino de herói ou da Papaver somniferum) que eu esteja cada vez mais imbatível a cada desafio e aventura!
Porque se eu avanço na jornada, é para continuar destruindo deuses possessivos e patriarcais no meu caminho, todos seus seguidores e ovelhinhas.
Para me apoiar naqueles que me mostram como criar minha solitude; como ser grata pela minha luz e pela minha escuridão; como fazer resplandecer em beleza qualquer sabedoria que eu adquirir…
No fim desse caminho: deuses destituídos; sacrifícios aos pés do trono; e no trono: eu.