“Que a benção e a maldição estejam sempre em seu caminho!”
Quando eu ouvi esse cumprimento pela primeira vez, lendo um livro, eu pensei: quero ter pessoas ao meu lado que me desejem isso, sempre!
Em toda minha jornada eu já tenho, e com certeza terei mais, desafios, ordálias, e com certeza eu terei mais algumas falhas a contar no meu caminho, mas quando eu ouvi que as palavras não deveriam fazer curvas, e ao mesmo tempo vi que essas mesmas palavras muitas vezes só andavam em círculos na verdade…eu parei de desejar compreensão, respeito ou aceitação, e eu me tornei como uma cobra. Alguns locais, afinal, eram para ser um ninho de cobras.
Porque se tem um papel que eu jamais me colocarei, será o do filho pródigo, não me arrependo das decisões e escolhas que fiz. Eu não ando em círculos e eu assumo minhas curvas. Eu serpenteio entre a quietude necessária para passar despercebida e a velocidade necessária para dar o bote. A sagacidade para sair antes que o recinto se torne inabitável e a audácia de definir, observando atentamente, quem é a presa e quem tem potencial de predador.
E eu sou aquilo que reconheço nos meus iguais. “Me diga com quem tu andas e direi quem tu és “ nunca soou tão natural.
Mas você dificilmente me verá berrando aos quatro cantos que eu sou a favor deste ou do outro, ou quais mazelas e molestas me causaram para que eu carregue certo desprezo comigo, ou quais conselhos e carinhos eu recebo de mãos que ao primeiro olhar parecem brutas demais, frias demais e demoníacas demais. Mas é por isso que a maldição é importante!
Os amaldiçoados são como uma família exilada que se junta por ser aquilo que os outros desprezam, e o que você aprende a observar nos outros e em si mesmo, quando se entende parte do grupo dos quem não tem grupo, é que todos tem um traço detestável. Até mesmo os que te exilam tem traços destestáveis, mas não os assumem.
E para aqueles quem não conhecem minha natureza, pode ser que não consigam ver de fora qual meu traço detestável, ou se você ja tem uma visão formada sobre mim, talvez não consiga ver quais são meus traços menos detestáveis ou até mesmos bons…(não me importa). Mas eu os tenho, e tenho todos. E eu existo com eles, cresço através deles, e eles compõem meu ser, até o momento em que serão: (a) superados, como uma pele velha; (b) enaltecidos, como novas escamas ou (c) devorados e regurgitados, como restos de uma boa refeição…
É bom ter a marca do amaldiçoado. Você aprende a estar atenta, aprende a desconfiar até do próprio reflexo…e chega uma hora você o compreende, e que você se torna o espelho!
Muitas vezes você não precisará nem dizer a eles o qua você enxerga, e apenas seus atos e decisões vão mostrar que simplesmente algo em você ressoa com poderes diferentes, clama por respostas diferentes e percorre caminhos dúbios, mas instigantes.
Como na dança entre um encantador e a serpente, perdura sempre a dúvida de quem está sendo encantado, quem é o propulsor dos movimentos originais… mas quando você aceita que esses movimentos na verdade fazem parte de você, você questiona, até mesmo, se você não é a própria serpente.
E as benção são suas se você as alcançar. E as maldições são suas se você as levantar. E é aí que a beleza daquela frase, alcança seu ápice:
Tudo é você quem causa, tudo é você quem encerra. Tudo é você quem cura e você quem envenena. Você quem sacraliza, você quem vandaliza.
Você está sempre do outro lado, mostrando o que não querem enxergar, você está sempre encantando e sendo encantado pelo que está dentro de você. Você se torna o iniciador e o opositor.
Então prefiro que cada um dos locais que eu passe, receba uma semente de quem eu fui naquele momento: de toda a minha entrega e verdade, que brote nos passos por onde eu andei, e sobre a pele que deixei para trás, toda a sorte de belezas e augúrios!
E serpenteando eu passei aqui e ali, e deixo algumas dessas sementes para brotar: como uma benção se assim o quiserem…e uma maldição se assim precisar!
Que as bençãos e maldições estejam sempre em seu caminho!