A fórmula do Opositor | Parte 2/(?)
Entender onde se está, é o priemiro passo para saber a que se opor
Ocorre, por vezes, uma desvalorização do nosso folk e da nossa terra quando se trata de observar a natureza e o que ela provém para a prática da bruxaria, especialmente nas faculdades dessa Arte que envolvem as práticas mais “européias” de magia.
Aqui vou tratar do meu processo de desmistificação e supervalorização do externo; vou buscar em nosso solo as plantas que contém as características que vislumbramos na tão almejada flora venéfica do mundo ocidental…mas espera aí, você entende que o Brasil também é um país ocidental?
Vamos começar esse estudo de forma a não deixar essas questões conceituais nos atrapalharem, e mais que isso, usá-las a nosso favor:
Precisamos primeiro compreender que o conceito de Ocidente e Oriente é mutável e já teve algumas condições cabíveis para a classificação. Podemos considerar que quaisquer territórios a oeste do Meridiano de Greenwich e falantes de línguas latinas, são Ocidentais; essa divisão teve início a partir da instituição do Império Romano do Ocidente, tendo Roma como capital versus Império Romano do Oriente, tendo Constantinopla (atual Istambul) como capital.
A parte ocidental teve seu fim no século V enquanto a orietal permaneceu até início da era moderna (1453) quando Constantinopla foi tomada pelos povos otomanos (de origem muçulmana de países da Europa, África e Ásia), a partir dessa tomada o veio forte em que pulsa a definição passa a ser o conceito de cristandade ou a oposição aos povos islâmicos e asiáticos; já no período da Guerra Fria o conceito passa a abarcar definição a partir das instituições presentes nas nações (democracia, capitalismo e os valores judaico-cristãos).
Mas onde está o Brasil nisso tudo?
Nossa terra tem questões específicas que a colocam em um limbo: temos uma língua e bases sociais com estruturas latinas; mas já enfrentamos uma ditadura (como alguns países da américa-latina que nos acompanham nessa questão) e com nossa democracia tão jovem e um subdesenvolvimento econômico, não nos adequamos à alguns termos atuais (a Austrália chega a ser considerada ocidental, apesar da localização, por atender à esses outros conceitos) e portanto apesar de alguns especialistas já adotarem o termo “extremo ocidente” para se referir à países como o nosso, aqui vamos entender que somos o que somos:
Uma pluralidade que permite destoar do pré determinado; uma cultura que pulsa com a influência de todos os povos que aqui fizeram lar; um solo fértil onde tudo se planta e tudo que nasce tem o seu valor; onde todos os ideais entram em conflito e existe a chance de algo novo surgir, algo que seja potente e não “entre” ocidente e oriente…algo extremo sim, mas algo de oposição!
Autoria Própria - Erva-moura (Solanum nigrum) coletada nas ruas de São Paulo (e minha atual leitura: A tradição secreta da magia - Idries Shah)
A bruxaria ocidental e a oriental tem seus poderes! Em seus jardins nascem Beladona (Atropa belladonna) e Foxglove (Digitalis purpurea, a dedaleira).
Mas aqui nasce a bruxaria brasileira. Do nosso solo nascem Erva-Moura (Solanum nigrum) e Oleandro (Nerium oleander, a espirradeira)!
Nós falamos uma língua latina e temos a potência do verbo usada tão extensivamente nos rituais de magia cerimonial (Grimorium Verum e Clavícula de Salomão)! Nós lutamos contra a escravidão e subjugação da colônia em busca de uma República (apesar de entender que majoritariamente isso foi fachada, nós temos sim heróis e heroínas de luta pela liberdade) e depois contra o domínio ditatorial pela Democracia, temos a força que toma poder através do povo! Temos os saberes de todos os povos que foram exilados aqui, que buscaram abrigo aqui e mais ainda: os saberes de povos que estavam aqui muito antes de tudo isso (2500 anos muito antes!! Com civilização organizada e sistemas/tecnologias).
Reconhecer a potência da sua terra e seu local de prática, trabalhar com os espíritos locais (genii loci), entender as questões políticas e históricas que abraçam nosso território (a Amazônia considerada Patrimônio Mundial pela Unesco, atualmente vem sendo estudada e novos contextos arqueológicos sugerem pré-existências de mais de 2.500 anos!) e empoderar-se dos poderes inegáveis pulsando sob esse solo…vejo essa etapa como de muita importância para avançar nos estudos de uma bruxaria que urge em sua própria essência pela mais verdadeira expressão do seu eu.
Tabalhar com o que se tem em mãos e o que floresce e vibra sobre o solo que pisa!
Negue toda e qualquer dominação e imposição de uma bruxaria estática, estéril e estética, nós bruxas precisamos de movimento, precisamos de conexão e mais que tudo nós temos e nos engrandecemos de toda potência e fonte de poder que encontrarmos! Seja qual for esse local.
No próximo texto começarei com um pouco do estudo venéfico das plantas encontradas em solo brasileiro. Espero que seja uma jornada enriquecedora e quem quiser acompanhar e discutir será bem vindo!
Vamos nos valer do que temos aqui para crescer?
Referências:
RODARTE, Leonardo. Você se considera ocidental?: para grande parte do mundo, o brasil não faz parte do ocidente. Para grande parte do mundo, o Brasil não faz parte do ocidente. 2018. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2018/09/24/brasil-nao-e-pais-ocidental.htm. Acesso em: 17 jan. 2024.
GAMA, Guilherme. Arqueólogos descobrem cidades de 2.500 anos na Amazônia: mapeamento encontrou ruas, estradas, praças e aglomerados que foram redes urbanas. Mapeamento encontrou ruas, estradas, praças e aglomerados que foram redes urbanas. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/arqueologos-descobrem-cidades-de-2-500-anos-na-amazonia/. Acesso em: 17 jan. 2024
Ótimas reflexões pra se ter após texto!